17.4.09

18 de abril - Dia Nacional do Livro Infantil

Mesmo que você veja meus olhos espalhar oceanos, não pense que é de dor. Pois sempre que eu sentir muito medo, surgirão heróis invencíveis para me salvar. Eles usarão armas secretas do bem, me levarão em viagem e eu voarei por cima das casas e das cabeças dos vilões mais temidos. Se a força desses guerreiros falhar feio, ainda me restarão magos, mágicos e feiticeiros audazes, tirando de suas cartolas e de seus chapéus encantados verdadeiras maravilhas, como poções milagrosas e raios paralisantes. E, daí, estarei livre de todos os perigos. Eu sei, não precisa ninguém me dizer, que os finais são felizes e, portanto, no fim, o amor vencerá. O livro me leva por caminhos. Desde pequeno eu aprendi o que é a liberdade. Eu queria que com você fosse assim também.

PEDRO ANTÔNIO DE OLIVEIRA

O Dia Nacional do Livro Infantil foi criado em homenagem a José Bento Monteiro Lobato. Ele nasceu no dia 18 de abril de 1882 e é considerado o criador da literatura infantil no Brasil. Quem não se lembra do Sítio do Picapau Amarelo, da Emília, da Narizinho, do Pedrinho (meu xará!), da Tia Nastácia, da Dona Benta, do Visconde de Sabugosa e do Marquês de Rabicó? Essas são algumas das criações de Monteiro Lobato que ficarão pra sempre gravadas na memória e no coração da gente.

Para quem não sabe, a literatura infantil surgiu no século XVII, com a finalidade de educar moralmente as crianças. Hoje o papo é outro e muitas coisas mudaram. A literatura, antes de tudo, quer emocionar e levar a galerinha a sonhar.

Já o Dia Internacional do Livro Infantil é comemorado em 2 de abril. A escolha da data homenageia o escritor dinamarquês Hans Christian Andersen. Algumas de suas obras mais conhecidas são “O Patinho Feio”, “O Soldadinho de Chumbo”, “A Pequena Sereia” e “As Roupas Novas do Imperador”.




Ler devia ser proibido!

Afinal de contas, ler faz muito mal às pessoas: acorda os homens para realidades impossíveis, tornando-os incapazes de suportar o mundo insosso e ordinário em que vivem. A leitura induz à loucura, desloca o homem do humilde lugar que lhe fora destinado no corpo social. Não me deixam mentir os exemplos de Dom Quixote e Madame Bovary. O primeiro, coitado, de tanto ler aventuras de cavalheiros que jamais existiram, meteu-se pelo mundo afora, a crer-se capaz de reformar o mundo, quilha de ossos que mal sustinha a si e ao pobre Rocinante. Quanto à pobre Emma Bovary, tomou-se esposa inútil para fofocas e bordados, perdendo-se em delírios sobre bailes e amores cortesãos.

Ler realmente não faz bem. A criança que lê pode se tornar um adulto perigoso, inconformado com os problemas do mundo, induzido a crer que tudo pode ser de outra forma. Afinal de contas, a leitura desenvolve um poder incontrolável. Liberta o homem excessivamente. Sem a leitura, ele morreria feliz, ignorante dos grilhões que o encerram. Sem a leitura, ainda, estaria mais afeito à realidade quotidiana, se dedicaria ao trabalho com afinco, sem procurar enriquecê-la com cabriolas da imaginação.

Sem ler, o homem jamais saberia a extensão do prazer. Não experimentaria nunca o sumo Bem de Aristóteles: o conhecer. Mas para que conhecer se, na maior parte dos casos, o que necessita é apenas executar ordens? Se o que deve, enfim, é fazer o que dele esperam e nada mais?

Ler pode provocar o inesperado. Pode fazer com que o homem crie atalhos para caminhos que devem, necessariamente, ser longos. Ler pode gerar a invenção. Pode estimular a imaginação de forma a levar o ser humano além do que lhe é devido.

Além disso, os livros estimulam o sonho, a imaginação, a fantasia. Nos transportam a paraísos misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal. Nos fazem acreditar que a vida é mais do que um punhado de pó em movimento. Que há algo a descobrir. Há horizontes para além das montanhas, há estrelas por trás das nuvens. Estrelas jamais percebidas. É preciso desconfiar desse pendor para o absurdo que nos impede de aceitar nossas realidades cruas.

Não, não deem mais livros às escolas. Pais, não leiam para os seus filhos, pode levá-los a desenvolver esse gosto pela aventura e pela descoberta que fez do homem um animal diferente. Antes estivesse ainda a passear de quatro patas, sem noção de progresso e civilização, mas tampouco sem conhecer guerras, destruição, violência. Professores, não contem histórias, pode estimular uma curiosidade indesejável em seres que a vida destinou para a repetição e para o trabalho duro.

Ler pode ser um problema, pode gerar seres humanos conscientes demais dos seus direitos políticos em um mundo administrado, onde ser livre não passa de uma ficção sem nenhuma verosimilhança. Seria impossível controlar e organizar a sociedade se todos os seres humanos soubessem o que desejam. Se todos se pusessem a articular bem suas demandas, a fincar sua posição no mundo, a fazer dos discursos os instrumentos de conquista de sua liberdade. O mundo já vai por um bom caminho. Cada vez mais as pessoas leem por razões utilitárias: para compreender formulários, contratos, bulas de remédio, projetos, manuais, etc. Observem as filas, um dos pequenos cancros da civilização contemporânea. Bastaria um livro para que todos se vissem magicamente transportados para outras dimensões, menos incômodas. É esse o tapete mágico, o pó de pirlimpimpim, a máquina do tempo. Para o homem que lê, não há fronteiras, não há cortes, prisões tampouco. O que é mais subversivo do que a leitura?

É preciso compreender que ler para se enriquecer culturalmente ou para se divertir deve ser um privilégio concedido apenas a alguns, jamais àqueles que desenvolvem trabalhos práticos ou manuais. Seja em filas, em metrôs, ou no silêncio da alcova… Ler deve ser coisa rara, não para qualquer um.

Afinal de contas, a leitura é um poder, e o poder é para poucos. Para obedecer não é preciso enxergar, o silêncio é a linguagem da submissão. Para executar ordens, a palavra é inútil.

Além disso, a leitura promove a comunicação de dores e alegrias, tantos outros sentimentos… A leitura é obscena. Expõe o íntimo, torna coletivo o individual e público, o secreto, o próprio. A leitura ameaça os indivíduos, porque os faz identificar sua história a outras histórias. Torna-os capazes de compreender e aceitar o mundo do Outro. Sim, a leitura devia ser proibida.

Ler pode tornar o homem perigosamente humano.

GUIOMAR DE GRAMMONT

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14 comentários:

Marcelo A. disse...

Grande Pedro!

Não poderia ter sido escolhida data melhor pra se comemorar esse dia. Monteiro Lobato é o cara! Daqui, da mesinha do PC, enxergo a coleção completa dele - talvez um dos melhores presentes que ganhei em toda minha vida...

Concordo contigo em gênero, número e grau. A leitura nos leva pra mares nunca dantes navegados; nos transporta a lugares e épocas distantes de nós.

Graças aos meus pais que, em todas as ocasiões, nos presenteavam com livros (Bola + livro, Playmobil + livro, carrinho + livro... Rsrsrsrs!), nós, aqui em casa, conhecemos o Egito, fomos à lua, voamos com Peter Pan; muitas vezes, sem sair do nosso próprio quarto...

É isso aí, Pedrantônio... Mandou muito bem!

Abração!

Joana M. disse...

Ler pode tornar o homem perigosamente humano.

Maravilhoso!

' Joseαne Costα* disse...

' Ain Pedro, que saudades que eu tava da sua Torre Mágica é tão bom voltar aqui...

Bom, amei o post, data super importante, ler é tudoo pra mim, aprendo muito, muito mesmo...

Que você tenha um ótimo final de semana^^

bjoo's no ♥

Josy*

Lucas disse...

Belo post. :)

Que seria de nós sem a literatura?

Mundos novos, criaturas fantásticas, prazeres desconhecidos etc.

_
Ta aí, "Dia nacional do livro infantil". Poderíamos estar comemorando dizendo que 100% das crianças de nosso país, ou do mundo, estão acostumadas a viver as experiências que um bom livro pode proporcionar.

Infelizmente ainda não é assim. =/
_

Abraço Pedro.

alex e! disse...

...ô, Pedro, que bela homenagem ao livro e, em especial, àqueles dedicados às crianças e jovens, por tantos e tantos anos negligenciados (bom, e ainda são em muitos casos, infelizmente...). Certamente Monteiro Lobato é um dos grandes - inclusive pros "grandes" -, e ainda hoje é tido por alguns (e graças a Deus por cada vez menos "alguns") como um escritor fora da realidade de sua época, quando o era muito pelo contrário, como todos nós sabemos. Além disso, aproveitando o comentário, gostaria de salientar que há cada vez mais centros e cursos especializados em literatura pra crianças e jovens, como os da Faculdade de Letras da UFRJ, que cada vez mais cresce e "enfeitiça" novos seguidores...

abraço do alex..... =D

Professora Rose disse...

Parabéns pelo seu blog de bom gosto e tão "clean" aos meus/nossos olhos.
Raro encontrar "meninos" como você que gostam de escrever e mais, escrever bem.
Nota dez pra você!
Ah... você é também, meu convidado para conhecer os meus espaços.

http://momentoalfabetizacao.blogspot.com
http://turmagirassol.blogspot.com

Um abraço carinhoso...

Professora Rose disse...

Ia me esquecendo.
Linkei seu blog com uma caixinha especial...
Vai lá ver!

Ademerson Novais disse...

Sim ler torna o homem cada vez mais humano....faz com a gente compreenda ainda que muito pouco..ou quase nada a natureza que nos vai no intimo... nos abre os olhos lentamente...ler nos paralisa...e ao mesmo tempo nos coloca em ação..ler é isso..inebriante e sufocante....
ler...ler....quando me verei privado disso....

Parabens amigo mais uma vez por uma chuva de palavras sobre a gente....

Ademerson Novais de Andrade

Marcelo A. disse...

Cara, sabe que eu sempre penso nisso? Se o Inri for realmente quem diz ser, tamos ferrados! Uahauahauahauaahaaaaaa!!!!

Obrigado pelos elogios, mas... vem cá: o que é ser um cara diferente? Espero que seja um elogio...

Rsrsrsrsrsrsrs!

Zoação...

Bom restinho de domingo pra você!

Daniel C.da Silva disse...

Pedro

Li o teu blogue. És lindo, de uma beleza humana feita, e de uma torre que espero nao ser mágica para poder ser verdadeira.

Eu fico contigo na tua torre, como pedes que fiquem um pouquinho. E sempre que quiseres e.maila-me

E como bem lembraste os personagens do Sito do Picapau Amarelo passado aqui em Portugal ha uns valentes anos.

Só gostavas que aproveitasses o blogue para falares também um pouco mais de ti...

Grande abraço com o tamanho do oceano que nos separa...

gloria disse...

Essa é uma data especial para vocë!
Tu me parece um mago, o próprio herói capaz de dar revirovoltas no teu mundo e criar um outro cheio de cor e vida. Um dia, uma criatura cheia de peripécias, te levará pela mão e te abrirá um livro inédito, com mil páginas do teu coração. um bj e parabéns!

Mimirabolante disse...

Pedro....................vc É O CARA !!!!Ótima postagem.......Parabéns !!!!!!

Udi disse...

Maravilhoso o seu texto! E também o da Guiomar de Grammont, mas ainda prefiro o seu pelo poder de concisão.
bjs

Anônimo disse...

Adoro você! Lindo e inteligente!